Chapada dos Guimarães

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Acordou às seis da manhã com a luz do dia tragando-a dos mais belos sonhos.

Logo que abriu os olhos se lembrou de onde estava e com quem. Sorriu.

A liberdade, a parceria, o amor daquele dia eram inéditos e traziam esperança.

Se aquilo fosse frequente, então estava tudo bem.

 

Pisar na grama molhada de sereno, todos ainda em seus sacos de dormir.

Descongelar o queijo e abrir a lata de atum, enquanto alonga o corpo mal-dormido.

Sentir o ar gelado, depois de dias naquela terra das mais quentes do Brasil.

Saber que o simples é mais agradável do que se pensa.

 

É um novo amanhecer, um novo dia, uma nova vida.

Os pássaros voando alto sabem como eu me sinto.

Curso de machistinha

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No final de semana passado fui à casa de uma tia em Minas. Ela estava me contando sobre um curso que ela fez quando tinha 9 anos, lá em Franca – SP. Chamava-se “Curso de Mãezinha”, e as garotas aprendiam a usar eletrodomésticos, pregar botões etc.

Me lembrei na hora da tal Escola de Princesas, localizada em Uberlândia (MG), cujo slogan é “Todo sonho de menina é tornar-se uma princesa”. Em uma matéria do site R7, Nathália de Mesquita ( a criadora da escola ) diz que “as estudantes aprendem sobre culinária, lavanderia, primeiros socorros, equilíbrio emocional, reputação, imagem e outros assuntos.” Ela acrescenta que “é um ‘curso para a vida’, baseando-se nas mulheres que gostaria que casassem com seus filhos”.

Então é assim, você pega sua filha de 5 anos de idade e coloca ela pra aprender sobre reputação, sobre como ser uma boa moça, sobre um suposto papel da mulher na sociedade. Lindo, né? ¬¬

Isso me lembra também aquele “Mulheres Diante do Trono” (que eu SEMPRE vou relacionar com bêbadas na frente do vaso). No site existe a explicação dos objetivos do projeto: ensinar às mulheres sobre a “verdadeira feminilidade”.

Eu fico preocupada com essas coisas… se um dia eu tiver uma filha, ela vai ter que conviver com esse tipo de dificuldades? Gente dizendo como ela deve se comportar, que existe um jeito certo de ser mulher? É um retrocesso e tanto!

Vou fazer um apelo aqui: pessoas responsáveis por crianças e adolescentes (sejam vocês pais, mães, tias (os), avós (as) etc.) não permitam que digam a eles o que devem fazer. CHEGA dessa história de papel de homem e de mulher.

Não caiam na besteira de convencê-los que existe um tipo certo de beleza, um jeito certo de falar, coisas certas pra se fazer, de acordo com o gênero.

Isso vai evitar que enlouqueçam caso a vida não siga o programado (o que provavelmente vai acontecer) e eles tenham que descobrir quem realmente são.

Hopper meditations

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Eita! Quanto tempo, hein?

Hoje resolvi falar de um projeto que achei demais: uma releitura fotográfica do trabalho de Edward Hopper.

Hopper é meu pintor favorito. Tive a oportunidade de ver um de seus quadros pessoalmente em julho do ano passado – no Museum of Fine Arts, em Boston – e foi lindo! As pessoas passavam, davam uma olhadinha e eu queria dizer “Minha filha! PARA! É Hopper! Volta aqui!” hahahaha
A obra era essa aqui:

Room in Brooklyn – 1932

 

E hoje, fiquei sabendo da série  Hopper Meditations, do fotógrafo Richard Tuschman. Achei muito interessante a homenagem/releitura. Você pode ver as fotos nesse link: http://www.ideafixa.com/fotos-inspiradas-edward-hopper.

Vou colocar mais duas obras do Hopper que eu gosto. Embora o gancho seja o ensaio fotográfico, o artista mesmo é ele! E quem não conhece seu trabalho não vai compreender as fotos – que, a meu ver, não tem a mesma profundidade e força que as pinturas.

hopper.summer-evening

Summer Evening – 1947

Rooms By The Sea - 1951

Rooms By The Sea – 1951

 

 

Até mais!

Cronicando

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Olá, hoje resolvi publicar uma crônica que escrevi no ano passado, para um concurso de redação em Jundiaí.
Não ganhei, mas e daí, né?
Espero que gostem! Aceito críticas construtivas! haha

O poder da cenoura

            “Era o terceiro dia, me lembro como se fosse hoje. Eu já estava há sessenta horas e vinte e sete minutos sem colocar um grama de chocolate na boca. Era uma vitória. Sempre acima do peso, tentei todas as dietas possíveis – a do chuchu foi a mais cruel – mas sempre um tabletinho do melhor doce de todos estava ali, ao meu lado, parecendo inofensivo e delicioso.

Fui apresentada às delícias do chocolate aos dois anos de idade, época mágica em que eu tinha uma babá um tanto gulosa, que andava pela casa deixando comida por onde passasse. Eu, sempre muito esperta, ia atrás dela “limpando” o caminho, por assim dizer. Um belo dia – talvez o mais belo de todos – em uma de nossas limpezas/caminhadas eis que ela deixa cair um quadradinho, bem pequeno, de uma coisa que eu nunca havia visto antes. Era bonito, brilhava intensamente, tinha um cheiro – ah, o cheiro! – maravilhoso e um gosto tão bom que me fez sentir como se todos os meus ursinhos de pelúcia me abraçassem e cantassem para mim. Estava perdida.

A partir de então, minha vida foi descobrir novos sabores, texturas, qualidades. Com sete anos, já diferenciava as marcas pelo gosto e quantidade de açúcar, e ensinava aos colegas que “chocolate branco não é chocolate”. Foi uma época feliz e de engorda – claro que eu comia outras coisas também, então sempre achei que meu problema de peso não tinha a ver com minha paixão por chocolate. Na verdade, eu não queria acreditar, era de mais para mim.

Os anos se passaram, dietas vieram e foram, academias foram pagas e roupas alargadas, quando resolvi que o problema deveria ser encarado de frente: eu precisava parar com o chocolate! Tentei relevar, apenas diminuir a dose, mas era mais forte que eu; quando percebia, uma barra meio amarga já havia sido liquidada. A solução era clara como o chocolate que toma sol e depois esfria: eu precisava cortar tudo, de vez.

Claro que tive o apoio dos amigos e familiares nessa longa jornada de autoconhecimento e força de vontade, que começou em uma segunda-feira de agosto, escolhida a dedo por estar bem longe daqueles dias em que mulheres de todo o mundo recorrem ao famoso brigadeiro de panela como fonte de carinho.

E eis que eu chego ao meu terceiro dia, o mais crítico em qualquer dieta… Nessa então, nem se fale! Fui ao trabalho normalmente. Uma mulher confiante e poderosa, pronta para qualquer desafio, feliz, completa, magra, linda…

– Aceita um brigadeiro?

Fui arrancada de meus sonhos de grandeza pela Rita, a pequenina estagiária com ares de mocinha que, no fundo, quer engordar a todas para limpar o caminho até o chefe. “Não querida, obrigada… Estou de dieta nova!”.

– Ah, mas um só não vai fazer diferença, né?

Que menina maquiavélica! Bruxa! Lembrei-me de meu guru de yoga dizendo que pessoas pequenas são pequenas, mas que eu sou grande e me levantei: “Não, Rita!”.  Sentei-me novamente, vendo todos aqueles brigadeiros indo embora. Foi uma prova de fogo, e eu passei.

Pelo resto do dia me senti bem comigo mesma, feliz com a minha perseverança. Na saída do trabalho, ao fazer o caminho de sempre, sofro mais um baque, este um divisor de águas em minha vida: na rua de minha casa a inauguração de uma tal Chocolateria Belga. Eu tinha me esquecido da loja nova e agora ela estava lá, pronta e linda, me convidando a entrar e arruinar a minha dieta.

Foi como se o mundo parasse. O coração batendo forte, como que dizendo “Não, não, não…”. As mãos suavam, o estômago roncava, estava prestes a desistir quando me lembrei de meu último fracasso dietístico – a dieta da cenoura. “Se está com fome, coma uma cenourinha”; essa era a regra. Procurei desesperada em minha bolsa e encontrei, um pouco ressecadas duas mini cenouras. Coloquei rapidamente na boca e foi como se um mundo novo se descortinasse para mim. Eu estava no controle agora! Sim, a mulher confiante e poderosa, pronta para qualquer desafio, feliz, completa e linda estava a caminho e não seria qualquer chocolatinho barato que a tiraria do foco. Naquela noite, pude dizer feliz: mais vinte e quatro horas.”

madrugada-nova

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Quatro anos com ele.

Anos-novos.

Três repletos de dúvidas. Velhas.

 

Nos acostumamos.

Devemos?

Haikai de ano novo

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dois mil e treze

alegria e amor.

Por favor, meu bem.

O vingador do futuro (2012)

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A nova versão do filme “O Vingador do futuro” ( Total Recall) estreou ontem nas salas de cinema do Brasil. A primeira versão, de 1990, contou com Arnold Schwarzenegger e Sharon Stone, nos papéis que agora são representados por Colin Farrel e  Kate Beckinsale.

A trama é baseada no conto Lembramos para você a preço de atacado (We can remember it for you wholesale), de 1966, do autor Philip K. Dick. Conta a história de Douglas Quaid, um operário que, cansado da rotina monótona de sua vida, procura os serviços de uma empresa que promete te dar boas lembranças e te tirar do marasmo. Algo, porém, dá errado e Quaid descobre que não é quem pensava, que uma guerra está por vir e seu papel nela é fundamental. Ou será tudo fruto de sua imaginação?

O Vingador do futuro é um filme de ação ininterrupta e um tanto cansativa, que pretende tratar da busca pela identidade em um futuro distópico, mas que não passa da pancadaria e correria habituais, sem se aprofundar nas questões psicológicas dos personagens. Achei  superficial e repetitivo nas cenas de ação, e os personagens principais (dos atores Farrel, Beckinsale e Jessica Biel) são um tanto inexpressivos.

Não li o conto original nem assisti à primeira versão, então não tenho como fazer comparações entre eles, porém não pude evitar comparações com outros filmes que já assisti. Blade Runner (clássico da ficção científica, também baseado em um livro de Philip K. Dick), Matrix e Exterminador do Futuro são referências claras quanto aos cenários futuristas e desoladores e às cenas de ação, porém considero qualquer um dos três melhor do que “O Vingador do futuro”.

Aliás, esse título é mais um daqueles que não diz nada do filme. Várias pessoas me perguntaram, inclusive, se tinha a ver com O Exterminador do Futuro – cujo personagem vinha do futuro, para exterminar.
Não gente, nada a ver. Quaid não é exterminador ou vingador de futuro. Assistam ao filme e descubram qual é a dele.

Segue aqui, o trailer:

Até mais,

Bia.

Pelo Estado verdadeiramente laico!

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Hoje li uma notícia sobre um totem, na cidade de Sorocaba, que vem gerando polêmica desde 2006, e que agora terá sua constitucionalidade investigada. O monumento afirma que a cidade “é do senhor Jesus Cristo”, o que causa grande desconforto a todos aqueles que não acreditam na história de J.Cristo, além de ir contra a dita laicidade do Estado brasileiro.

“Sorocaba é do senhor Jesus Cristo” – cadê a laicidade? (foto: Fernando Rezende)

A Constituição Brasileira de 1988 diz o seguinte:

“Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
 
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
 
II – recusar fé aos documentos públicos;
 
III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.”

Dois estudantes de direito resolveram, então, entrar com um pedido na Promotoria de Habitação e Urbanismo de Sorocaba, para que a obra seja investigada, pois acreditam que o artigo 19 está sendo desrespeitado.

O promotor  Jorge Alberto de Oliveira Marum vai apurar se a área é pública ou privada (e, neste caso, se existe título de permissão) e qual o valor gasto com o monumento.

Se for considerado ilegal ou inconstitucional, um ressarcimento aos cofres públicos deverá ser feito, além da demolição do totem.

Acho ótimo que as pessoas reclamem seus direitos todos. E o direito de acreditar ou não em alguma coisa deve se garantido, sempre.

Localização do monumento: lateral da alça de acesso da avenida Dom Aguirre à rodovia Senador José Ermírio de Moraes (Castelinho), na entrada da cidade.

Fontes: http://www.diariodesorocaba.com.br/site2010/materia2.php?id=222437

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm

A média ou Ah, deixa quieto!

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Dez e meia, preciso dormir – pensa a garota ao fim de um dos domingos mais chatos dos últimos tempos.

– Mas não consigo! diz em voz alta.

-Ahn? responde a mãe, meio desacordada no sofá ao lado. “Nada não, mãe.. foi só a TV”.

O que impedia seu sono era uma preocupação constante com a vida, o que incluia, claro, seu namoro de alguns anos que, de novo, está morno. Quase frio.

O problema é que achava que só ela sentia isso e que talvez fosse só mais uma fase, mas naquele domingo, seu namorado pareceu pensar o mesmo.

“Só vou à sua casa amanhã se você não tiver nenhum trabalho pra fazer. Se você ficar no computador eu vou embora”

“Tudo bem amor..” E lá foi ela correr, dormir às duas da manhã, acordar às sete e meia, para dar conta dos trabalhos.

Três e meia da tarde. Ele chega, ela corre pro banho antes que ele a veja. Se perfuma, arruma a cama, pensando no que fariam ali mais tarde e desce as escadas, feliz por estar com ele.

Depois do almoço, sentam-se em um dos sofás; os pais dela – no outro – dormem ao som da televisão que transmite algum jogo de futebol.

Vêm então a surpresa: “Amor, vou dormir lá no seu quarto.”

Ahn?! Sim, ele queria dormir. E foi. E dormiu. E ela foi junto, porque achou que talvez conseguisse mudar a situação. Não conseguiu.
Desceu as escadas, desta vez não tão feliz por estar com ele.

Em três dias ele iria embora e, sabendo disso, estava dormindo no quarto.

Aliás, ele só dormia. Carregava o peso de 52 anos, embora só tivesse 22. Sempre foi assim, mas ela só percebia quando ficavam muito tempo juntos. Essa é a dificuldade do namoro à distância: o que é ruim quando estão separados é bom quando unidos, mas o contrário também. Sempre existe alguma coisa que não foi bem conversada.

E ela sabia disso. E de novo ela daria uma chance. Afinal, gostava muito dele, apesar do desânimo, da preguiça. Ele também gostava dela, apesar de inquieta e insone.
Além do mais, logo isso tudo seria esquecido com a distância, quando outros problemas ficariam maiores.

E assim foi. Como se selassem um acordo mudo, namoraram, casaram-se, decidiram não ter filhos. Ela sempre propondo viagens e passeios, ele sempre querendo dormir ou simplesmente ficar em casa.

E domingos como aquele se repetiram esporadicamente durante sua vida, até que ela parou de percebê-los; parou de sentir aquela preocupação. Passou, também, a dormir. Decidiu acompanhá-lo e deitar-se ao lado dele para ouvir os anos passarem, a televisão sempre ligada ditava os horários.

Se perguntava, às vezes, sobre seu casamento e sua vida, como um todo. Mas conforme os anos passavam, adotou frases como “deixa quieto” ou “podia ser pior” para conseguir fechar os olhos à noite (ou de dia), quando fosse preciso esquecer qualquer dificuldade e apenas deixar o tempo passar e consolidar a longa vida mediana que ainda tinha pela frente.

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É tão estranha nossa dança…

Nunca no mesmo ritmo, nunca estável

Você perde o compasso, não quer seguir a música

Eu perco o equilíbrio, tropeço, me recupero

e dançamos felizes, um segundo mais até o próximo vacilo

num ciclo que depois de anos, já não é tão sadio.