Olá, hoje resolvi publicar uma crônica que escrevi no ano passado, para um concurso de redação em Jundiaí.
Não ganhei, mas e daí, né?
Espero que gostem! Aceito críticas construtivas! haha
O poder da cenoura
“Era o terceiro dia, me lembro como se fosse hoje. Eu já estava há sessenta horas e vinte e sete minutos sem colocar um grama de chocolate na boca. Era uma vitória. Sempre acima do peso, tentei todas as dietas possíveis – a do chuchu foi a mais cruel – mas sempre um tabletinho do melhor doce de todos estava ali, ao meu lado, parecendo inofensivo e delicioso.
Fui apresentada às delícias do chocolate aos dois anos de idade, época mágica em que eu tinha uma babá um tanto gulosa, que andava pela casa deixando comida por onde passasse. Eu, sempre muito esperta, ia atrás dela “limpando” o caminho, por assim dizer. Um belo dia – talvez o mais belo de todos – em uma de nossas limpezas/caminhadas eis que ela deixa cair um quadradinho, bem pequeno, de uma coisa que eu nunca havia visto antes. Era bonito, brilhava intensamente, tinha um cheiro – ah, o cheiro! – maravilhoso e um gosto tão bom que me fez sentir como se todos os meus ursinhos de pelúcia me abraçassem e cantassem para mim. Estava perdida.
A partir de então, minha vida foi descobrir novos sabores, texturas, qualidades. Com sete anos, já diferenciava as marcas pelo gosto e quantidade de açúcar, e ensinava aos colegas que “chocolate branco não é chocolate”. Foi uma época feliz e de engorda – claro que eu comia outras coisas também, então sempre achei que meu problema de peso não tinha a ver com minha paixão por chocolate. Na verdade, eu não queria acreditar, era de mais para mim.
Os anos se passaram, dietas vieram e foram, academias foram pagas e roupas alargadas, quando resolvi que o problema deveria ser encarado de frente: eu precisava parar com o chocolate! Tentei relevar, apenas diminuir a dose, mas era mais forte que eu; quando percebia, uma barra meio amarga já havia sido liquidada. A solução era clara como o chocolate que toma sol e depois esfria: eu precisava cortar tudo, de vez.
Claro que tive o apoio dos amigos e familiares nessa longa jornada de autoconhecimento e força de vontade, que começou em uma segunda-feira de agosto, escolhida a dedo por estar bem longe daqueles dias em que mulheres de todo o mundo recorrem ao famoso brigadeiro de panela como fonte de carinho.
E eis que eu chego ao meu terceiro dia, o mais crítico em qualquer dieta… Nessa então, nem se fale! Fui ao trabalho normalmente. Uma mulher confiante e poderosa, pronta para qualquer desafio, feliz, completa, magra, linda…
– Aceita um brigadeiro?
Fui arrancada de meus sonhos de grandeza pela Rita, a pequenina estagiária com ares de mocinha que, no fundo, quer engordar a todas para limpar o caminho até o chefe. “Não querida, obrigada… Estou de dieta nova!”.
– Ah, mas um só não vai fazer diferença, né?
Que menina maquiavélica! Bruxa! Lembrei-me de meu guru de yoga dizendo que pessoas pequenas são pequenas, mas que eu sou grande e me levantei: “Não, Rita!”. Sentei-me novamente, vendo todos aqueles brigadeiros indo embora. Foi uma prova de fogo, e eu passei.
Pelo resto do dia me senti bem comigo mesma, feliz com a minha perseverança. Na saída do trabalho, ao fazer o caminho de sempre, sofro mais um baque, este um divisor de águas em minha vida: na rua de minha casa a inauguração de uma tal Chocolateria Belga. Eu tinha me esquecido da loja nova e agora ela estava lá, pronta e linda, me convidando a entrar e arruinar a minha dieta.
Foi como se o mundo parasse. O coração batendo forte, como que dizendo “Não, não, não…”. As mãos suavam, o estômago roncava, estava prestes a desistir quando me lembrei de meu último fracasso dietístico – a dieta da cenoura. “Se está com fome, coma uma cenourinha”; essa era a regra. Procurei desesperada em minha bolsa e encontrei, um pouco ressecadas duas mini cenouras. Coloquei rapidamente na boca e foi como se um mundo novo se descortinasse para mim. Eu estava no controle agora! Sim, a mulher confiante e poderosa, pronta para qualquer desafio, feliz, completa e linda estava a caminho e não seria qualquer chocolatinho barato que a tiraria do foco. Naquela noite, pude dizer feliz: mais vinte e quatro horas.”